Entrevista com Bear Grills
Segue a seguir uma entrevista completa do "Discovery Channel" com o especialista em sobrevivência Bear Grills, aprensentador do programa "A prova de tudo"
Pergunta: Como surgiu a ideia deste programa de televisão?
Bear Grylls: O Discovery Channel entrou em contato comigo há alguns anos. Eu havia feito um programa para a televisão do Reino Unido sobre o treinamento básico da Legião Estrangeira Francesa com uma equipe de cinegrafistas. Tudo correu muito bem, e por isso, o Discovery Channel me disse: “Sabemos o que você faz e gostamos muito, você acha que podemos fazer um programa juntos, em que o deixaremos abandonado no meio de um lugar qualquer, com a intenção de filmar tudo o que você pode fazer para sair dali?” Não aceitei em três ocasiões porque não queria ser um apresentador de televisão, eu estava fazendo minhas próprias coisas, expedições e escaladas. Então eles me disseram: "Escute, não queremos um apresentador de televisão. Só queremos filmar o que você faz, seja bom ou mau, os êxitos e os fracassos”. Minha esposa me disse: “Você deveria experimentar!”, e foi o que fiz. Foi muito divertido. Nunca senti nenhum tipo de pressão para que tudo funcionasse perfeitamente. E nunca tive medo de mostrar as coisas que saíram errado. Não pretendo fazer nada diferente, e não penso nas pessoas que estão assistindo ao programa. Só penso nos cinegrafistas e em mim mesmo. Penso em tudo o que precisamos fazer para evitar problemas, como por exemplo, ficar alerta com as possíveis serpentes e procurar um lugar para nos abrigar quando chega a noite. É assim que faço, e funciona.
Pergunta: Sabemos que você esteve na Patagônia, você também viajou para o Chile?
Bear Grylls: Ficamos encantados com a Patagônia. É um lugar lindo, muito lindo. Foi sensacional filmar ali.
Pergunta: Em que parte você esteve e o que achou?
Bear Grylls: Não tenho certeza de onde estivemos, mas acho que foi nos campos de gelo da fronteira entre a Argentina e o Chile. Foi lá que saltei de pára-quedas e comecei a caminhar até as estepes. Acho que o lugar mais próximo era Calafate. Depois, nos encontramos sobre o glaciar Perito Moreno. Fiquei encantado com a Patagônia. É um lugar selvagem, venta muito, é frio e estéril. Um lugar tão remoto que realizar uma demonstração ali se tornou um verdadeiro privilégio. É um dos meus programas favoritos.
Pergunta: Como este programa de TV mudou a sua vida?
Bear Grylls: Bem, basicamente, só tento fazer meu trabalho, filmar e voltar depois para casa. Fiz algumas viagens com o Discovery para o lançamento da nova temporada da série, mas na maior parte do tempo estou com minha equipe de filmagem ou em minha casa. Sei que o programa é visto por cerca de um bilhão de pessoas ao redor do mundo, mas eu não penso nisso. Só penso em filmar com meus cinegrafistas, e dizer a eles o que têm de fazer para voltar para casa. É surpreendente, é realmente um privilégio. Você sempre conhece pessoas que são melhores paraquedistas, melhores escaladores e melhores sobreviventes que você, mas me sinto muito afortunado por um inglês como eu fazer tudo isso. É algo que tenho feito durante toda a minha vida, e se transformou em um verdadeiro privilégio.
Pergunta: O que você acha dos riscos que deve enfrentar?
Bear Grylls: Os riscos são altos. Fazem parte do trabalho diário. Há uma semana, tive de lutar com um crocodilo e matá-lo nos pântanos da Louisiana. E uma semana antes, tive de enfrentar uma espécie de víboras de aproximadamente dois metros, as chamadas cobras-covinha. Acabo de escrever em meu miniblog beargrylls.com) o momento em que fui atacado por abelhas, e minha cara inchou tanto que eu nem conseguia enxergar. Todos os dias você enfrenta riscos. Uma vez eu estava filmando em uma ilha deserta na costa de Sumatra e entrei na água para mergulhar. Havia uma grande raia-jamanta. Pensei que deveria tomar muito cuidado, pois era uma raia exatamente igual àquela que havia matado Steve Irwin. Mas então também pensei: “este é o meu trabalho, é o que gosto de fazer, e preciso aplicar meus próprios princípios”. Então decidi mergulhar até conseguir pescá-la com uma vara de madeira que havia retirado de uma árvore. Tudo correu bem. Naquela noite, eu jantei na praia. Tento tomar cuidado. Pensar nas coisas e planejá-las. Ter desenvolvido um bom instinto ao longo dos anos foi muito importante. Ele me ajuda a determinar onde estão os perigos e a me manter alerta sobre o que devo controlar. Sempre foi uma luta constante em minha vida. Tenho família e preciso me manter a salvo destas coisas. Minha prioridade número um é ter certeza de que estamos todos a salvo. Mas também é uma batalha constante tentar equilibrar minhas “duas vidas”.
Pergunta: O que você acha dos riscos que deve enfrentar?
Bear Grylls: A resposta mais curta é dizer que eles me encantam. Sempre fiz isso, me dediquei a eles minha vida inteira. Me sinto vivo. O fato de sofrer um revés na vida não significa que você deva desistir. Acho que meu acidente de pára-quedas permitiu que eu percebesse o quanto sou afortunado por ter conseguido sobreviver. Temos apenas uma vida, e devemos aproveitá-la com ousadia, saindo do padrão para realizar todas estas coisas. Muitas vezes, precisamos sofrer um revés para nos dar conta disso.
Pergunta: O que se deve ter no bolso para sobreviver a qualquer situação?
Bear Grylls: O cérebro. É nossa grande vantagem sobre todos os animais perigosos. Por isso, temos um cérebro muito maior que o deles. No mundo da sobrevivência, o bom senso é muito importante. O mesmo se aplica à engenhosidade, à importância de ser inovador e saber pensar sobre o problema que se apresenta. Por fim, o que temos de mais valioso é nosso espírito. Nossa determinação para continuar vivendo é muito importante. Sempre levo na sola do meu sapato uma pequena fotografia laminada de minha família. É minha melhor ferramenta de sobrevivência.
Pergunta: Você está realizando este programa há muito tempo, e já viajou por todo o mundo. Você ainda se impressiona com as pessoas, os animais e a natureza que encontra em outros lugares?
Bear Grylls: Claro que sim! Cada dia é realmente um privilégio. Quanto mais eu viajo, mais me dou conta da quantidade de lugares selvagens que existem em nosso planeta. Quase todos os dias me surpreendo com a vastidão de muitos destinos que visitamos. Até mesmo em países onde existe um monte de gente, como o México, você encontra lugares assim. Estive em uma região salina do México em que não se podia encontrar seres humanos em um raio de 160 quilômetros de distância. Ao visitar as selvas tropicais da Indonésia e a tundra siberiana, você pensa em como nosso mundo é extraordinário, belo e selvagem. Do ponto de vista da natureza, me surpreendo constantemente ao pensar em como são grandes e perigosos alguns lugares da Terra.
Pergunta: Quanto tempo você esteve na Patagônia?
Bear Grylls: Ficamos aproximadamente duas semanas na Patagônia. Para os episódios desta região, levei um equipamento mais completo. Tinha uma corda e um saco para o gelo. Isso me permitiu fazer mais coisas. Eu adorei.
Pergunta: Quantas pessoas fazem parte de sua equipe?
Bear Grylls: Quatro de nós levamos câmeras, e também contamos com um especialista em som, um diretor e uma pessoa encarregada da segurança dos cinegrafistas. Este último se ocupa de amarrar as cordas para podermos filmar em precipícios e outros locais perigosos.
Pergunta: O que vem à sua mente quando você se encontra no meio do nada?
Bear Grylls: Durante a maior parte do programa, estou molhado, assustado e com muito frio, mas também passo muito tempo surpreso, ansioso e bastante nervoso. Acho que quando estava tentando matar um crocodilo com um pequeno canivete, meu coração batia como em uma competição em que nem tudo vai bem. Todos os dias acontecem coisas assim. Mas tudo isso me encanta. Salto do helicóptero e concentro minha mente para fazer tudo o que me permita sobreviver. Acho que, às vezes, nossa vida é muito fácil em nosso ambiente normal, e adoro experimentar como ela pode se tornar realmente rigorosa. Você está sozinho, só você e os elementos. Há uma certa magia que transforma isso em algo muito atraente.
Pergunta: Como você seleciona os lugares para onde vai?
Bear Grylls: Eu me reúno duas vezes por ano com os responsáveis da produção e planejamos o que poderia ser interessante. A linha geral consiste em determinar o lugar extremo e o momento do ano em que estaremos ali. Já filmei na Sibéria durante o inverno e no Saara no calor sufocante do verão. Também trabalhamos nas selvas da Indonésia durante a época das chuvas. Para ser honesto, procuramos lugares que me coloquem no limite das minhas possibilidades, e este ano foi especialmente difícil.
Pergunta: Por quanto tempo mais você acredita que estará fazendo estas coisas?
Bear Grylls: Não sei. Cada vez saio mais contundido e ferido. Os últimos meses tem sido terríveis. Fui atacado por abelhas, fui mordido por serpentes e fui picado por escorpiões. Quebrei dois dedos dos pés, os joelhos e um cotovelo. Também desloquei os quadris. Mas esta é a natureza do meu trabalho. Me curo com bastante rapidez e volto a fazê-lo. O cortes e as contusões só me incomodam durante alguns dias. É o que gosto de fazer. Sou jovem e estou fisicamente preparado. Por enquanto, eu vou continuar.
Pergunta: Você tem em mente algum recorde a ser superado?
Bear Grylls: Sim, mas ainda é segredo.